terça-feira

Devaneio

Da varanda voou o bilhete

E nem que eu corresse

O vento me deixaria alcançar



Eu não sei pra onde

Nem porquê

Ele se foi



Mas de onde é que vem

Isso de leva e traz?

Vai do humor do vento

Mas é ele quem deve voltar

Ou eu que devo ir?



E o vento, mesmo forte

Só carrega o que é leve

Me leva!

Quero voar por inteira

Só pra não sentir mais as pernas

E largar penas no chão

Como pistas do meu norte



Daí o bilhete fujão que me encontre

Porque longe vou

Pra mais perto

Do que me espera



Mas de onde é que vem

Isso que leva e traz?

Vai do humor do vento

Mas é ele quem deve voltar

Ou eu que devo ir?



Essa liberdade

Que hoje me presenteio

É a mesma que a ti me prende

Devaneio

Bem-me-quer

Os dias com você são dias fora daqui

São dias de fonte de rio

De clareza de sol

De ponte segura



Os dias com você são os dias que ficam

Enquanto os outros continuam passando



São dias de bem querer

Bons dias de bem

Bem-me-quer



As noites com você desligam o noticiário

Cozinham o tempo, desamarram tranças

São noites invertidas

Noites inventadas



As noites com você são as noites que firmam

Enquanto as outras continuam esperando



São noites de bem querer

Boas noites de bem

Bem-me-quer

quinta-feira

Por onde começar

Amar é não esquecer de amar

Por um segundo sequer

É não deixar pra depois

É cuidar, ensinar, fazer acontecer

E amanhã ir devagar colhendo

A horta cheia que conseguiu plantar

Não mais sozinho, mas com o auxílio

De todos aqueles que tiveram a felicidade

De cruzar teu caminho.

quarta-feira

Céu

Pensei que era imaginação

Como quando você atende ao chamado do seu nome

Sendo que está só

Pensei que tinha te inventado

Como quando a fantasia cobre o real

E só isso se vê



Tamanha surpresa ao descobrir que és mesmo feito de céu

Que teu gosto é tão azul quanto eu sonhei

Um azul de mudar meu coração de cor

Me fez acordar do sonho que eu inventei

Me fez lembrar do que sempre foi real





Deixa que eu vá

Mas me espera voltar

Porque foi voltando que aprendi

Foi por voltar que quero ir

Pra mais tarde você de novo me acordar
 

sexta-feira

Esta Guerra

Aquilo que eu atiro

E te acerta,

Que te arranca lágrima ou riso,

Te faz retrucar ou desatar,

É para ser sentido

O sentido que te faz.





Quando algo te digo ou faço,

Seja para que ria ou enxergue,

Pode ser recebido sem peneira

E inteiramente saboreado,

Mais do que pensado,

Para que não engula a parte pesada

Ou a que não te encaixa.


Não é porque te foi dado

Que se deve de todo abraçar.

Por isso jamais se permita

Passar por azia ou congestão,

Porque sempre será sua escolha

Soltar ou não.





Essa é a guerra que se faz

Que movimenta caos, explosões, desabafos...

Quando se caminha ao lado,

Não se nega atrito, lenço ou abraço.



O que adoece

É tratar com indiferença a si e ao outro.

O que apodrece

É se calar e confundir

Silêncio com paz.

Choices

Everytime you revive a painful memory


You choose to suffer again



To grab it or to let it go

It's your option



Always.

quarta-feira

Vá!

Regue a vida com respostas pra você
E perguntas para os outros.


Além de ajudá-los,
Você estará ganhando tempo.

terça-feira

Tô nessa.

Na onda do útil, claro e simples.
(se você se contentar com isso)

As combinações de palavras
Que saem de mim
Saem porque não cabem
E quando aqui se encaixam
Ou se estranham
É para fazer ver
A quem quiser
Até onde se pode ir

Então eu tô nessa
Sambando entre o óbvio
O esquecido
E a surpresa,
Depende da sua busca.
O que você quer?

Já é hora

Já é hora
De tirar a poeira dos ombros
De pôr a roupa certa
Aquela que é a minha cor
E meu tamanho
Agora


Ando no ritmo que meus pés aceleram
Por vezes na contra mão
Acompanhada ou só
E sempre descalça


O destino de quem passeia
Pode ser indefinido
E isso não é o mesmo
Que estar perdido

Posso parar durante horas no caminho
Que o destino se torna a própria viagem
E se aqui tá bom pra mim
É cá que eu paro
Até que não seja mais assim
E aí eu fui


É menos tchau
E mais até logo
São menos papéis
E mais sabor
Cansaço, cores, vida, amores
E aí eu fui.

Vidro

Sempre sem saber bem porquê
Mas cheia do que dizer
Mais uma vez insisto em te explicar
O que é estar junto, sentir, ficar
Como se tivesse algum sentido
Te tomar pela mão e seguir
Enquanto você se distrai
Assistindo qualquer cena
Pena.


Estourado coração, que lá dentro
Foi deixado e misturado com qualquer resíduo
Meus ouvidos distorcem tudo que este tentou mostrar
E mais uma vez me vejo a te ensinar, mostrar, sorrir
Sem perceber que o dia passou
E cá estou entorpecida
Exausta de uma batalha que nem me cabia
Que comprei pagando com pele, tripas e saliva


Mas de dentro sempre vem algo que diz
Mesmo que eu não quisesse
Esta dor esteve sempre a me molhar os olhos
E dizer que de nada vale
Lutar só e querer transformar
Areia em vidro, água em vinho
O que for
Enquanto ele não quiser
Achar de si o melhor.

domingo

Jibóia

Me empresta o ânimo dessa música
Porque hoje dá até pra sair
Vou fingir não me incomodar com tudo isso
E confundir de próposito
A jibóia pelo chapéu

A única coisa certa hoje
É que eu preciso de ar
Por isso vou sair
Copiar os olhares foscos
Daqueles que querem só ver frutos
E se esquecem de regar a raiz


Ah, mas para quê?
Aqui o ar é por demais denso
E eu acabo entendendo que só dá para ser assim por uma noite
Porque irresponsabilidade sufoca
Porque o bruto invisível se manifesta
Não é com a boca que se nega
O que o corpo berra.

Me empresta o ânimo dessa música
E me dá um gole desse veneno
Vou fingir entender suas piadas
E confundir de próposito
Desespero por euforia


Quando será que vão entender?

terça-feira

Diariamente

Quem sempre tenta fazer o melhor dos seus dias é ela

Enquanto ele se prende ao seu mundo

Que só se estende até a moldura do espelho

E no outro dia, não é feliz

Porque se esqueceu de plantar.

Ela trabalha, sua e sorri

Enquanto ele desperdiça tanto palavras quanto tempo

O tempo deles

E ela chuva.

Paciência, dias cada vez mais curtos...

Flor

Calor

Folhas

Cobertor

E ela arrebenta tudo num acesso de raiva

Depois, apaixonada, replanta...

E depois é sol

A luz bate no mundo dele todo dia de manhã

E reflete a verdade que dói enxergar

E ele coloca seus óculos escuros

E, pisando nela, sai para trabalhar sem se despedir.

E ela enchente, terremoto, relâmpago.